sábado, 29 de dezembro de 2007

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO POETA ANTÓNIO VIEIRA LISBOA

Proposta apresentada, na Assembleia de freguesia de 28/12/2007, no decorrer da discussão das Opções do Plano e Orçamento para 2007, pelos membros eleitos pelo Grupo de Cidadãos Independentes UNIR – II

António da Silva Gouveia Vieira Lisboa, apesar de não ser natural da freguesia da Ribeira, adoptou-a como sua, vivendo até aos últimos dias da sua vida na Casa da Garrida, em Crasto, nesta freguesia.
O Dr. Lisboa, como era conhecido, não se limitou a viver na Ribeira, procurou contribuir, do modo que lhe era possível, para o desenvolvimento social e económico desta terra e suas gentes.
Este espírito inovador e de certo modo aventureiro, fizeram com que, as propriedades agrícolas que possuía na freguesia (Quintas do Bom Sucesso e Pombal), fossem autênticos laboratórios agrícolas, onde se experimentavam, para além de novas culturas (amendoim e soja) as mais recentes inovações no que diz respeito a práticas agrícolas, tendo introduzido na freguesia a sementeira do milho à linha com recurso a um semeador de duas linhas, coisa rara na época.
Em períodos difíceis, o Dr. Lisboa representava a única esperança para se conseguir trabalho.
À sexta-feira, as escadas da capela da Casa da Garrida eram enxameadas por mendigos e pedintes, que esperavam a hora do meio-dia para que viesse um empregado distribuir as esmolas, que nunca recusou a quem lhe estendesse a mão.
Contudo este Homem bom, possuía outra faceta, o seu lado mais íntimo, que procurava satisfazer com o recurso à poesia.
O poeta António Vieira Lisboa publica a maioria dos seus livros, na década de 40, do Sec. XX.
É contemporâneo de Pedro Homem de Melo, Vitorino Nemésio, Alberto Serpa, Álvaro Feijó, José Régio, Irene Lisboa entre outros.
Nesta altura, os versos movem-se através de tertúlias de café, dos jornais, dos livros e das revistas que circulam, de norte a sul, por todo o país.
São múltiplas as tendências e as estéticas em confronto permanente, desde o Modernismo ao Neo-Realismo.
Mas, o poeta dos versos estranhos, ou dos poemas de Amor e Dúvida, afasta-se de todas essas correntes e círculos.
Como refere João Gaspar Simões, no Itinerário Histórico da Poesia Portuguesa, – A poesia é uma só.
Assim, António Vieira Lisboa vai construindo as suas próprias normas, procurando chegar a uma poética personalíssima:
“Toda a sua Arte nasce de uma chama interior, de uma sensação de vazio, de um desconforto e insatisfação”.
Procura na escrita reinventar a vida em águas mais calmas.
A sua poesia é uma busca permanente do equilíbrio entre o corpo e o espírito.
Nos seus versos, é quase sempre a mulher que desempenha o papel principal:

A Terra é seca, é árida, é ingrata
Sem teu olhar de mulher.
Só a mulher à terra prende e ata
Com invisível nó que o Amor sugere.

/Chão de Amor 1944/

O poeta António Vieira Lisboa, foi o poeta das emoções, o cantor do amor e da mulher, mas foi também o cantor do Lima.

Sobre ele disseram:
Jaime Brasil
Poetas assim, só aparecem de séculos em séculos e não chegam a contar-se pelos dedos de duas mãos.
Rebelo Bettencourt
Um lugar dos melhores entre os melhores poetas modernos.
Raul Leal
A marca incontestável dum artista.
Considerando que em 2008, se comemora a passagem do I Centenário do nascimento de um dos mais ilustres, senão o maior que esta terra acolheu;
Considerando que é um dever enquanto autarcas zelar pelo património da freguesia;
Considerando que devemos libertar da lei da morte aqueles que nos deixaram importantes legados e contribuíram para a grandeza desta terra e das suas gentes;

Propomos:
• Seja deliberado por esta assembleia assinalar condignamente esta efeméride, criando para o efeito uma comissão para realização dessas comemorações;
• Seja dirigido um convite ao Dr. José Cândido de Oliveira Martins, para presidir a essa comissão.

Ribeira, 28 de Dezembro de 2007
Os Vogais Proponentes
António Domingos da Costa Morais
Sérgio Augusto Esteves de Araújo

A proposta, apesar de apresentada e por isso tornada pública, não foi discutida uma vez que, o Sr Presidente da Assembleia de Freguesia, fazendo uma interpretação restritiva e redutora do papel daquele órgão, argumenta que os membros apenas podem votar a favor ou contra. Ora, se não podem discutir o documento e apresentar propostas de melhoria, para que serve a Assembleia de Freguesia? Assim sendo, poupa-se tempo e dinheiro: Vota-se por correspondência.

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1 Comments:

At 10 de março de 2008 às 17:13, Anonymous Anónimo said...

A VILA E O RIO
Do Poeta: António Vieira Lisboa



Foto de Amândio de Sousa Vieira

A vila
tranquila
¿ dorme ou suspira?
junto do Rio.

E o rio,
safira
em fio,
de volta da Vila,
delira.

A Ponte já velha de tanto relento
se mira
no fundo
do Rio sedento.

Alheia,
num esquecimento
do que é deste mundo,
nem vê que a aniquila
a areia.

É o equinócio
do Outono.
E o Rio no velho caminho vacila...
pára...rodeia,
enfim prossegue com cautela:
que não perturbe a Vila
no sono
d'ocio.

Nem vela
circula.
E o Rio areia acumula
no pensamento que o atribula
de à Vila
chegar.

Vem longe o Inverno que traz as cheias.
E o Rio infeliz
se afila
perdido de Amor, com ciúmes da Ponte.
Até lhe levou duma vez as ameias.

E a Vila, de branco, só espera o Luar
e o rouxinol de fronte.

in Ao Longo do Rio Azul, Edição de Autor, Ponte de Lima, 1949, pp. 44-45

 

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